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Arquivo da categoria: Livros

CRIANÇA 44

 

 

Tom Rob Smith.

Editora Record

Rio de Janeiro – 2008

Josef Stalin: secretário geral do partido comunista da união Soviética e do Comitê Central a partir de 1922 até sua morte em 1953.

O desprezível bigodudo acima retratado bem que passaria por um bom homem. Tem um olhar austero é certo. Mas quem não tem um pai, tio, avô que seja que não surpreendeu a você em um momento de brincadeira com alguns amigos e paralisou-o com aquele olhar aterrador? A pergunta que se impõe é se podemos ou devemos emitir juízo de valor ao caráter, a personalidade daquele que em uma moldura se nos apresenta ao olhar inocente e não nos ameaça e, portanto, aparentemente, não nos pode fazer mal? Quero dizer, você teria uma reação repulsiva diante de uma fotografia tão cândida, inofensiva, paternal mesmo quanto à de Josef Stalin ao alto se desconhecesse sua biografia?

Número de vítimas

Em 1991, com o colapso da União soviética, os arquivos do governo soviético finalmente foram revelados. Os relatórios do governo continham os seguintes registros:

  • Número de mortos
    • Executados: 800 mil
    • Fome e privações (gulags): 1,7 milhões
    • Reassentamentos forçados: 389 mil
      • Total: aproximadamente três milhões

Entretanto os debates continuam alguns historiadores acreditam que relatórios soviéticos não são confiáveis. E de maneira geral apresentam dados incompletos, visto que algumas categorias de vitimas carecem de registros – como as vitimas das deportações ou a população alemã transferida ao fim da Segunda Guerra.

Alguns historiadores acreditam que o número de vítimas da repressão estalinista não ultrapasse os quatro milhões; outros, porém, acreditam que esse número seja consideravelmente maior. O escritor russo Vadim Erlikman, por exemplo, fez as seguintes estimativas:

  • Número de mortos
    • Executados: 1,5 milhão
    • Fome e privações (gulags): cinco milhões
    • Deportados: 1,7 milhão
    • Prisioneiros civis: um milhão
      • Total: aproximadamente nove milhões

Os estudos continuam e alguns pesquisadores, como Robert Conquest acreditam em cerca de vinte milhões de vítimas.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Stalin

Suponho que não, contudo o megalomaníaco bigodudo gostava de morte por atacado. Para se ter uma idéia da barbárie Stalinista, estima-se que durante a Segunda Guerra Mundial o numero oficial de mortos está entre 50 e 60 milhões de pessoas. Seu regime contabilizou, acredita-se, cerca de 20 milhões.

O jovem corrompido e corrompedor Tom Rob Smith cônscio de que um bom material visual é a chave para o consumo impulsivo, elabora apelativamente bem a arte gráfica- também o conteúdo – nesse romance de estréia.Explora um exemplo patético do que dizíamos acima. Olhando sua fotografia, apensa a contracapa do livro Criança 44, já estimulados pela chamada visual,um extremado apelo, resignamos-nos aceitar fazer a leitura das suas 431 páginas. O conjunto emoldurado, a princípio, nos envolve, acolhe,e quando nos damos conta já estamos comprometidos com essa cortina enevoada de uma criança morta sob os trilhos da política de segurança de Stálin. Acreditamos, a princípio, que o maroto livro tenta ressaltar a brutalidade de um sistema apoiado na retórica de um bigodudo contaminado por poderes de super-herói através de uma correlação infância inocente versus  Estado político repressor personificado em Stálin. É pau, nojento, doentio, ainda que não estejamos considerando o lado politico-social da coisa, ou seja, Stalin é fruto de uma revolução proletária… Que o “paz e amor” não nos leia! Nenhuma experiência temos nesse campo. Nenhuma! Claro, nosso passado – nem mesmo Canudos – não é revolucionário como muitos agradecem à Deus, é golpista aventureiro numa eterna perpetuação burguesa. Outros tantos agradecem à Deus!… E as eleições democráticas de 2000? Enfim, um trabalhador sindicalizado e aclamado pelo povo, assim como Stálin, subiu a rampa do Planalto; todos ficamos felizes, tanto que o reelegemos… Você deve estar se torturando e perguntando: o que tudo isso de “paz e amor” tem haver com o romance? Claro, é verdade; voltemos ao Stalin, voltemos a Tom Rob Smith o pervertido que teve os direitos de adaptação para o cinema comprados pelo cineasta Ridley Scott que produziu, entre outras pérolas do cinema, o Gladiador: aquele trabalhador que é usado pelo império como lutador de arena. E o povo vai ao delírio, é mole?… Ainda bem que o pervertido do Tom é magro e é burguês e é Inglês de olhos verdes – não azuis – daquela mesma Inglaterra da Revolução Industrial, da…

Não nos iludamos. Assim como a foto de Stálin não nos revela o seu lado humano apocalíptico, assim criança 44 só apresentará sua qualidade inferior de escola pública quando você desembolsar reais em busca de cultura e divertimento e perceber que o conteúdo é piegas e sem coesão contextual: Liev é metamorfoseado conforme a circunstância de conveniência do narrador. Leia-se a perseguição a Bródski. Apresenta-se como profissional experiente de guerra, decidido, maduro. Agora leia-o perseguido e lidando com a esposa e verá um menino assustado que depois de anos trabalhando para o Estado descobre que tudo é mentira e sente-se mal por isso como se a culpa fosse dele. A narrativa é lenta em função do jogo ambíguo de formulações morais que rege todo o aspecto ficcional; leia-se esse diálogo:

– Não denunciei você não por acreditar que estivesse grávida (Raíssa), nem por eu ser bom. Foi porque a família é a única coisa na minha vida da qual não me envergonho.

-Porque essa revelação da noite para o dia? Parece sem valor. Depois de perder o uniforme, o escritório, o poder, você agora tem que acertar as coisas comigo (Raíssa). Será que é isso? Uma coisa que nunca teve importância para você, a nossa vida, ficou importante porque foi só o que sobrou?

E olhem a besteira dita por Raíssa:

-Casei com você com medo de ser presa por rejeitá-lo. Talvez não fosse presa imediatamente, mas uma hora seria, por algum pretexto. Eu era jovem, Liev, e você poderoso. Foi por isso que nos casamos… Você nunca me bateu, nem gritou comigo, nunca se embriagou. – no Brasil esse cara seria disputado aos empurrões- Então, pensando bem, eu achava que tinha mais sorte que a maioria das mulheres.

A utilização do pretérito por Raíssa salienta uma decisão passada mas que agora não se justifica já que o babaca do Liev ficou desempregado… e ainda vem falar que ele nunca levou a vida do casal a sério? Matem essa mulher!, não, melhor, não inicie a leitura desse livro.

João Ricardo Miranda

 
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Publicado por em abril 5, 2009 em Livros

 

RACHEL: O DRAMA HUMANO EM O QUINZE

 

Rachel de Queiroz

Editora José Olympio

77ª Edição – Rio de Janeiro

Rachel de Queiroz… Cearense por nascimento, carioca por escolha. Dividiu seu tempo entre um e outro estado; trabalhou ininterruptamente criando personagens rurais e urbanos fortes como seu texto, sua vida, suas convicções político-sociais; um estilo inconfundível, que a premiou com a Academia Brasileira de Letras. O Quinze, primeiro romance da autora integrado à ficção regionalista nordestina, retrata brilhantemente essa característica – própria mesma do movimento realista da última metade do séc.. XIX – em que o aspecto sociológico, bem mais que o psicológico, determina, condiciona o comportamento:

"Cordulina assustou-se:

– Chico, que é que se come amanhã?

A generosidade matuta que vem na massa do sangue, e florescia no altruísmo singelo do vaqueiro, não se perturbou:

-Sei lá! Deus ajuda! “Eu é que não havera de deixar esses desgraçados roerem osso podre.”

Talvez a própria Rachel, comunista por princípio, num mundo que virava de ponta à cabeça com a Revolução Bolchevique de 1917, deixa-se surpreender em seus personagens com a velha utópica idéia de conciliação entre os agentes de produção capitalista,… Um possível "acordo" proletário-burguês, mais que acordo, humanidade cristã.

O ano é 1930. Vargas assume, através de um golpe, o governo federal do Estado Novo. O Brasil vive um momento ímpar de "destruição" – no dizer de Mário de Andrade – mais que construção com a Semana de Arte Moderna. Há uma busca ávida do "homem brasileiro", da identidade brasileira. É o Brasil tentando se redescobrir em sua identidade. À parte os exageros dos adeptos ufanistas, constrói-se uma literatura engajada em que o social desponta com força de personagem.

No romance O Quinze, Rachel constrói duas seqüencias narrativas paralelas: Chico Bento, retirante da seca, expulso da terra, compõe o social da trama;… Conceição, que recusa o amor de Vicente, esterilizada na terra ardente do sertão, compõe o psicológico. Segue-se um estilo rigoroso, enxuto, conciso, fragmentário a cinema e que se basta: …” Vicente marchava através da estrada vermelha e pedregosa, orlada pela galharia negra da caatinga morta. Os cascos do animal pareciam tirar fogo nos seixos do caminho. Lagartixas davam carreirinhas intermitentes por cima das folhas secas no chão que estalavam como papel queimado.” Chega-se ao fim do romance: "forte" como o personagem, cônscio e desejoso de mais leitura, de mais Rachel,… Fica-se socialmente mais crítico, e anseia-se por mudanças sociais,… Políticas! Por outro, a ternura, a comunhão, a partilha do pão nos convida a sermos solidários,… Humanos!

Enfim, e tentando não ser repetitivo ao que já foi dito e publicado, não esqueçamos, atentemos para a capacidade inerente de seus textos em produzir imagens.

"Só a Maria, a preta velha da cozinha, irrompeu pelo corredor, acocorou-se a um canto e engulhando lágrimas e mastigando rezas resmungava:

– O inverno! Senhor São José, o inverno! Benza-o Deus!"

Vitória, 20 de janeiro do ano de 2009.

João Ricardo A de Miranda

 
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Publicado por em janeiro 24, 2009 em Livros

 

O poder das palavras

 

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS.

 

 

MARKUS ZUSAK

 

A menina que roubava livros é, sem dúvida, um romance inovador na forma, na maneira de comunicar, na moldura grossa de um cinza escuro sem luar; de um estilo que prende a respiração por medo ou dor. A "Morte", narradora, transborda o texto, convida á leitura… Muito apropriado a conduzir o leitor por caminhos tortuosos.

Do susto inicial, dá-se a conhecer uma menina abandonada pela mãe, pesarosa do irmão morto estendido na neve.

Primeiro furto.

Um personagem judeu introduzido na trama, fugindo á perseguição nazista, aterrissa no porão da casa da nova família da menina. O horror do holocausto é exposto com excessivo sentimentalismo… Um melodrama. Aliás, esta é a tônica do romance.

Seqüência de furtos.

Por fim, o bombardeio sobre a cidade, a rua, e a morte dos personagens, á exceção da menina que resiste heroicamente após ter sido soterrada segurando um livro; e o rapaz judeu, que reaparecerá no final da história já casado com liesel.

Em toda a narrativa manifesta-se o poder da força das palavras àqueles que as usam. De forma explícita joga-se com o maniqueísmo simplório entre bom e mau: O Fuhrer e suas palavras – Minha luta – com discurso de mortandade, em especial aos judeus. Por outro, a menina que roubava livros transformando-o em ação pela vida.

Enfim, um romance medíocre, de conteúdo pobre. Apresenta-se garbo, gigante, vestido de um escuro chocolate e pintado de um episódio insano – entre tantos da história humana- NAZISMO. Desta pleonástica união despontam personagens fracos, instáveis, sentimentais, apoiados na força da história e nos personagens históricos que lhes conferem melhor talho. O leitor, seduzido pela força da narradora, alimenta a esperança de que irão explodir, amadurecer, criar projeção para além da que lhes confere á morte. Mas não é isso o que acontece. Queda-se prostrado diante de uma menina a segurar ás mãos os pais mortos numa rua imunda de escombros de guerra a chorar, a pedir o acordeão que tantas vezes seu pai tocara, como se o mesmo pudesse devolvê-los á vida.

Chega-se, então, ao fim do romance desgastado e aturdido, pois, só neste momento, o leitor dá-se conta que ficou com uma batata quente ás mãos: A existência humana vale a pena?

 
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Publicado por em janeiro 15, 2009 em Livros

 

EU LI MACHADO DE ASSIS

   
     

 

Toda leitura faz-se necessária!

Lendo um  jornal de renome, ou mesmo um periódico especializado em venda de celular, deve-se sempre  considerar a importância da informação lida para  ajudar a compor a imagem da realidade.

Assim pensando, sempre assim pensando, aventurei-me numa leitura tida por muitos "difícil" e entoada como essencial, principalmente na formação acadêmica. Cobiçava compor meu mural informativo, ampliar a paisagem do conhecimento e, acima de tudo, e por tudo, refestelar-me com esta arte nobre da cultura humana – literatura. De tal arte, dei-me voluntariamente as páginas de Quincas Borba; romance escrito em 1891 dez anos após Machado de Assis ser ovacionado pela crítica com seu maior , ao menos na minha opinião, sucesso literário: Memórias Póstuma de Brás Cubas. Creio, e não sei até que ponto fui influenciado pela primeira, um colchão de reflexões, que exigi da segunda  uma obra no mínimo irretocável; bem, não foi exatamente isto o que aconteceu. Em Quincas Borba, a história é acanhada, tímida mesma: Rubião, após a morte de Quincas Borba -personagem já aparentado em Brás Cubas- de quem herdou a fortuna e informes de uma nova filosofia – Humanitismo – muda-se para a corte – Rio de Janeiro- convivendo com o casal Cristiano e Sofia. por esta se apaixonando. Neste ponto, Machado escancara todo seu poder irônico fazendo-nos rir das desventuras românticas de nosso herói e que, por detrás deste verniz, explora a ambição do interesse das relaçoes humanas, assunto já apropiadamente abordado em Brás Cubas.

Então, por que ler Quincas Borba?

Talvez esperemos uma nova revelação. Talvez Machado, numa nova empreitada, nos revele um novo conceito, uma nova idéia. Isso não acontece. Ao contrário, Machado faz-se Machado de Assis e é aí que faz sentido lê-lo. O primeiro capítulo nos mostra Rubião com seus pensamentos de riqueza a contemplar o mar e sua casa, o que foi e o que é para, logo em sequida, mostrar-nos sua morte em Barbacena. Seque-se a morte de Quincas Borba narrada em capítuloà parte. Nesse momento você, leitor que por vezes sequida tentou antecipar os capítulos, se deparará com o autor Machado de Assis que lhe dirá: "é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá título ao livro, e por que antes um que o outro, -questão prenhe de questões, que nos levariam longe…"

Então, quando olhares os destroços de uma querra, não condenes o homem, condene-se a sí mesmo, a querra foi produzida e planejada, e, você… "Aos vencedore as batata.." – Machado de Assis.

 
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Publicado por em dezembro 1, 2008 em Livros